Sessão de terapia


 Flertou com a própria morte as três noites anteriores. Bebeu demais, abandonou os remédios, levou um pé na bunda da namorada. O pneu do carro furou, a cozinha pegou fogo, o vizinho matou o gato atropelado. Que toró maldito! Pelo menos, a tempestade que alagara a casa do coitado fez a gentileza de acompanhá-lo por todo seu trajeto ao consultório. Agradeceu aos céus por finalmente entrar, e ensopado, fez seu lugar no recinto, aguardando o horário matutino da sessão. Os olhares piedosos das secretárias não desgrudaram do rapaz até deixar a saleta, adentrando o covil do psicólogo. Assim que colocou os pés ali, despencou toda a sua constituição na conhecida cadeira encourada, relaxando os músculos diante do seu ''ouvinte'' semanal. 

—  Bom dia, Guilherme. Recebi as suas mensagens. Como você está? 

— Opa! Tô bem sim, e você?

E o silêncio tomou conta da sala. 

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